Nesse livro o leitor encontrará uma face mais desconhecida de Clarice Lispector: uma Clarice do cotidiano popular feminino. Correio Feminino é uma obra que não mostra só a escritora renomada, mas uma cronista da imprensa carioca e, acima de tudo, uma mulher.
Clarice começou suas atividades na imprensa entre as décadas de 1940 e 1950, publicando entrevistas, traduções e contos em revistas cariocas, até que foi chamada por Rubem Braga para escrever na coluna feminina Comício. Ela, contudo, passou a escrever se protegendo com o uso do pseudônimo Tereza Quadros, para que pudesse escrever textos menos elaborados preservando sua identidade e imagem de escritora e esposa de diplomata.
Aliás, o uso de pseudônimos por Clarice não foi exclusivo a essa coluna, mas comum a outras que escreveu na época. Tratava-se de um cuidado da autora.
Nessas colunas Clarice abordava temas do cotidiano de seu público: as mulheres. Eram conselhos, reflexões sobre a vida e saúde, técnicas de sedução, medidas para agradar o cônjuge, assuntos do lar, receitas e segredos do universo feminino, dentre tantos outros que conquistavam suas leitoras por encontrarem na escritora uma amiga, confidente e conselheira.
Apesar de esses textos não refletirem as minuciosas análises da alma e do psicológico humano – características das obras de Clarice –, neles encontramos bases e indícios de sua literatura. Como Tereza Quadros, Helen Palmer ou Ilka Soares, Clarice publicava coisas aparentemente simples, mas incitava também reflexões sobre o comportamento da mulher e seu posicionamento na sociedade.
Ainda que alguns conselhos possam parecer hoje ultrapassados, as dicas de Clarice contribuem para remontar o papel atribuído às mulheres nos anos 1950 e 1960, mostrando códigos de conduta que as mulheres precisavam obedecer para que pudessem ser bem vistas pela sociedade, por seu marido e até mesmo por si próprias.
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